Discurso de abertura e de boas vindas – parte 2

Neste post, relato as duas palestras que antecederam o encerramento da sessão de abertura e de boas vindas, que ocorreram ainda no primeiro dia da Conferência.

Dra. Angelika Tritscher, Diretora do Departamento de Segurança de Alimentos e de Zoonoses da OMS – Organização Mundial de Saúde, Suíça, discorreu sobre o “fardo” representado pelas doenças transmitidas por alimentos: anualmente, cerca de um terço da população mundial, ou seja, 2 bilhões de pessoas (repito, e adiciono uma exclamação: 2 bilhões!) ficam doentes devido a alimentos contaminados. Dra. Angelika alertou que este número é apenas uma estimativa, “na melhor das hipóteses”, e discutiu que a principal razão da falta de precisão deste dado é, em maior ou menor extensão, devida à má notificação e subnotificação deste tipo de doença. “O que em geral se observa é que a informação é escassa e o que é relatado é apenas a ponta de um iceberg”, afirma ela. A demografia mundial, as comunicações, as mudanças climáticas, as perdas econômicas, aspectos de “food defense” e busca de nutrição saudável são todos fatores que têm um elevado impacto nas doenças de origem alimentar.


Dra. Angelika delineou algumas iniciativas necessárias para reforçar a segurança de alimentos de maneira global: reforço dos sistemas de proteção de alimentos, abordagem harmonizada “entre–empresas” e intersetorial, compromisso internacional para notificação de casos, compromisso global para reduzir doença de origem alimentar e “agir globalmente para proteger localmente”. 


Dra Angelika Tritscher, OMS, Suíça.

Dr. Robert Thompson, Professor da Faculdade de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos, relatou alguns dados históricos sobre a produção de alimentos, desde a teoria de Malthus, que previa no século 18 que a produção mundial de alimentos não seria capaz de acompanhar o crescimento da população, até os dias atuais, quando o volume de alimentos produzidos teoricamente seria capaz de alimentar toda a população existente, não fossem as perdas e desigualdade no consumo.

O grande salto na produção de alimentos deveu-se principalmente à elevação da produtividade impulsionada pelos avanços na tecnologia agrícola, mas há um enorme descompasso entre onde as pessoas vivem e onde os alimentos são produzidos. Segundo Dr. Robert, “a questão é se/ou por quanto tempo esta previsão vai continuar a estar errada”. Enquanto muitos creditam o aumento da demanda de alimentos ao crescimento da população mundial, economistas estimam que 30 a40 por cento do aumento desta demanda até 2050 será devido ao amplo crescimento econômico nos países em desenvolvimento. O mais importante “desconhecido“, segundo o Dr. Thompson é o número de consumidores de baixa renda que sairá da pobreza nas próximas décadas, o que potencialmente exercerá uma pressão enorme na demanda global por alimentos, podendo desencadear um período de incerteza. Para dobrar a disponibilidade de alimentos, a duplicação sustentável da produtividade agrícola é a única solução, dobrando a produtividade em solos férteis não erodíveis“, disse ele. 

Dr. Thompson alertou para um fato que é por vezes negligenciado: “20 a 40 por cento dos alimentos cultivados nos países em desenvolvimento são desperdiçados devido à tecnologia de armazenamento inadequado, à falta de transporte rural, resultando na redução de perdas pós-colheita, componente chave de qualquer estratégia de segurança alimentar”.

Finalizando este post, posso resumir a mensagem do Dr. Thompson como “a importância vital que o mundo deve dar a um maior investimento em pesquisa agrícola e à infra-estrutura rural”.

Robert Thompson, Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos

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