Conferência, dia 2: varejo e segurança de alimentos

Demorei, mas finalmente consegui um tempo para resumir duas outras palestras que assisti no segundo dia da Conferência.

Amanhã, teremos também o resumo de uma palestra sobre fraudes, da qual não consegui participar mas cujos slides me foram gentilmente cedidos por um dos palestrantes.


  • a multiplicidade de normas/esquemas
  • a não suficiência de esquemas suficientemente adequados
  • questões relacionadas à competência dos auditores
  • normas que por vezes exigem padrões por demais elevados/ sofisticados
  • a falta de follow up
  • a falta de massa crítica em alguns países


A rede Metro como catalisadora de mudança para a Segurança de Alimentos

Peter Overbosch, Vice-Presidente da Qualidade Corporativa do Metro Group da Alemanha, expôs a visão de sua empresa sobre o tema. Inicialmente, falou sobre a complexidade do atual sistema de absatecimento, que faz com que os consumidores se tornem cada vez mais distantes dos agentes da produção. Nos grandes centros urbanos, o varejo se firma cada vez mais como o principal ponto onde os consumidores obtém seus alimentos, levando o setor varejista a desempenhar um papel cada vez mais importante na evolução da segurança de alimentos.


Peter fez um apanhado histórico da garantia da qualidade: no passado, o fabricante é quem definia como deveria ser o produto, ao passo que atualmente estamos na era do controle dos processos ao longo da cadeia de suprimentos, Mas algumas empresas já estão uma etapa à frente, o que implica em uma abordagem de produtos e processos orientados para o que o consumidor deseja, sem desvios nem perdas. Para tanto, é preciso evoluir para além da garantia e da prevenção, priorizando a  redução de perdas e a melhoria contínua de processos com foco no meio ambiente.

Achei muito pertinente a crítica que Peter fez à confusão cada vez mais frequente entre o que de fato representa um perigo para a segurança de alimentos, com base em  evidências científicas, e o que é apenas percebido como perigo.

Particularmente, tenho chamado bastante a atenção para esse ponto, sendo que na Food Design passamos a diferenciar entre segurança intrínseca, quando de fato há perigo à saúde, e segurança percebida, quando se trata mais de uma percepção do consumidor sem fundamento científico. Muito se tem alardeado sobre perigos que não são perigos: apenas a título de exemplo, podemos citar a questão dos OGMs (organismos geneticamente modificados), que tem suscitado desconfiança e medo desnecessariamente. Nossa recomendação tem sido a de priorizar o que efetivamente diz respeito à saúde, deixando a segurança percebida para ser tratada pelo cliente da maneira que julgar oportuno.

Peter destacou as virtudes da certificação como um passo adiante, que ajuda o segmento a evoluir, mas também foi claro em suas críticas:
Segundo ele, “a certificação não pode ser a palavra final. Precisamos de uma continua demonstração de capacidade. Precisamos engajar os fornecedores de forma ativa”.

Peter levantou o tema da certificação para lojas/ supermercados. Explicou que a rede Metro não exige isso, mas muitas unidades já estão certificadas em normas como IFS para varejo, ISO 22000, além de outras certificações locais, claro que sempre cumprindo os requisitos da próprio rede.

Encerrando sua apresentação, Peter voltou a enfatizar que devemos classificar perigos com base em ciência, desenvolvendo métodos mais eficazes de treinamento e resistindo à tentação de ceder à pressão de grupos movidos por outros interesses.


Quem é responsável pela segurança de alimentos? 
A perspectiva do consumidor

Charlie Arnot, CEO do The Center for Food Integrity, dos EUA, mostrou os resultados de uma pesquisa quantitativa feita com mais de 2000 consumidores em seu país sobre atitudes em relação à segurança de alimentos.


Os resultados apontaram como prioridade a segurança de alimentos, seguida do preço. Entendo que este dado está alinhado com a visão do representante do grupo Metro, Peter Overbosch, pois após  conseguir a garantia da segurança em toda a cadeia de suprimento, há que se esforçar para reduzir perdas, o que automaticamente levará à oferta de preços mais baixos.


Charlie discutiu os desafios enfrentados pelos stakeholders da indústria para a construção da confiança do consumidor no sistema alimentar de hoje. Ilustrou este desafio relatando o caso do recall de ovos que ocorreu nos Estados Unidos em 2010, quando mais de meio bilhão de ovos foram recolhidos por suspeita de Salmonella enteriditis. O episódio causou um enorme impacto no mercado de ovos, desencadeando um grande número de ações litigiosas entre empresas além de uma forte pressão junto ao FDA e ao Congresso dos Estados Unidos. Concluindo, Charlie disse que este foi mais um dentre vários casos de contaminação que contribuiram para acelerar a aprovação do FSMA – Food Safety Modernization Act, já citado no post publicado anteriormente sobre a palestra de Michael Taylor, do FDA.

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