Colaboração traz sucesso – cases da África do Sul

Dando continuidade aos exemplos sobre iniciativas de implementação de sistemas de gestão da segurança de alimentos com base no Programa Global Markets do GFSI, os cases de hoje são da África do Sul, apresentados por Ronel Burger, Gerente da Unidade de Negócios do Conselho de Bens de Consumo da África do Sul (CGCSA) e por Silnia Badenhorst, Gerente de Segurança de Produtos da empresa Massmart.
Abaixo seguem dados da África do Sul para contextualizar melhor o cenário daquele país, onde as primeiras eleições democráticas ocorreram somente em 1994, depois de 46 anos da oficialização do apartheid.


Fonte: Site da Conferência
Ronel explicou que “a CGCSA é uma ONG fundada em 2009, que representa 11.000 empresas de bens de consumo, tanto fabricantes como varejistas e atacadistas da a África do Sul que tem a missão de promover parcerias e interação entre as empresas membros, buscando resolver problemas de natureza não concorrenciais”, e que dentro desta associação foi formado o FSI – Food Safety Initiative, “uma iniciativa dos membros das indústrias, dedicada à proteção da saúde pública e do consumidor na área de segurança de alimentos, baseando-se em evidências científicas para orientar decisões transparentes e inclusivas. Um dos principais objetivos do FSI é reduzir o número de auditorias de segurança de alimentos”.
Como o leitor vai perceber, essa ONG seguiu “protocolo” semelhante ao da ASU da Argentina, mencionado no post anterior, porém com um ingrediente a mais: o apoio da UNIDO, a United Nations Development Organization, conforme relato mais abaixo.
A UNIDO tem dado um forte apoio a países africanos. Eu mesma já desenvolvi um trabalho de formação teórica de instrutores de APPCC/HACCP em Moçambique em 2011 para a UNIDO, de forma remunerada. Em 2012, como a UNIDO não tinha mais verba para o projeto, eu e Jonathan Motillon da Equipe Food Design, com nossos próprios recursos mais o apoio da Food Design, complementamos este trabalho, orientando e revisando estudos práticos realizados em três empresas lá de Moçambique. Além desse trabalho, Pablo Laube, também da nossa equipe, com o patrocínio da Food Design esteve durante um mês lá, para ministrar uma das disciplinas do primeiro curso de mestrado em alimentos de Moçambique.

Ronel Burger, CGCSA, África do Sul
Voltando à palestra da Ronel, ela contou que esta iniciativa foi fundada em 2009, e após muitas discussões com os varejistas e atacadistas, em 2010 o FSI chegou a um “novo e estimulante modelo de consenso denominado SAFSA – South African Food Safety Initiative, que inclui o Programa de Capacitação na Indústria de Alimentos Sul Africana, fundamentado nas recomendações do Global Markets do GFSI. bem como estabeleceu o NET Safe – um sistema nacional de recall”.
Ronel mostrou que embora esta iniciativa esteja ainda em sua infância, o FSI, juntamente com os demais stakeholders, está trabalhando duro para tornar isso uma realidade e que após traçar o caminho a ser seguido e que auxiliados por Frank Yiannas, Vice Presidente Corporativo de Segurança de Alimentos do Wal-Mart, no papel de Vice Presidente do GFSI, e pela UNIDO- United Nations Development Organization traçaram o caminho a ser seguido, e já colhem os frutos das primeiras iniciativas piloto e vários aspectos positivos, mostrados a seguir por Silnia.
Abaixo estão apresentados os stakeholders do modelo:

Fonte: Site da Conferência


Fonte: Site da Conferência


Silnia Badenhorst, Massmart, África do Sul.
Fonte: Site da Conferência
Silnia, da Massmart, a maior distribuidora de bens de consumo e o maior atacadista de alimentos básicos na África, com 302 lojas na África do Sul e em outros 12 países sub-saarianos, contou que, como resultado destes esforços, o cenário já está mudando e vários aspectos positivos já podem ser identificados, conforme cópia do slide cedida pelo GFSI:

Silnia relatou que os sistema de auditoria com foco nos esquemas do GFSI têm as seguintes vantagens:
– Melhora a saúde e a segurança do consumidor
Dá sustentação à segurança dos alimentos, com padrão preventivo e orientado
– Melhora as normas de segurança  de alimentos do campo à mesa
– Garante que os riscos alimentares sejam identificados e administrados
– Garante o cumprimento da legislação nacional
– Protege a reputação da indústria
– Não apresenta nenhum risco anti-concorrencial
– É reconhecido internacionalmente para o comércio global
– Simplifica as auditorias de fornecedores
– Minimiza os custos de abastecimento da cadeia
– Permite, passo-a-passo, a execução com foco na melhoria contínua
– Cria conformidade em toda a cadeia de abastecimento
– Assiste pequenos fornecedores 



Fonte: Site da Conferência
Silnia finalizou dizendo que ainda existem muitos trabalhos a serem completados, e diversos desafios a serem enfrentados. Mas os resultados dos pilotos realizados mostram melhoras significativas, conforme pode ser observado na cópia dos slide abaixo, cedida pelo GFSI. Vale mencionar que não entendi o que é “BL”, mas o importante é observar a melhoria entre a primeira auditoria em azul, e a segunda, em verde, depois do treinamento realizado de acordo com o modelo adotado.

Fonte: Site da Conferência  
Podemos concluir afirmando que estamos diante de mais um grande exemplo de espírito associativo a ser seguido, certo?

Aguarde próximo post: o case da Malásia.


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Iniciativas GFSI em países em desenvolvimento – case Argentina

Começo hoje a relatar exemplos sobre iniciativas de implementação de sistemas de gestão da segurança de alimentos com base no Programa Global Markets do GFSI em mercados emergentes.
Um ponto importante a ser observado pelo leitor é que em todos os exemplos apresentados pode-se claramente ver consubstanciada a ideia da responsabilidade compartilhada, tema da Conferência de 2012, e como esse conceito resultou em sucesso na Argentina, África do Sul e Malásia.
Começando pela Argentina, durante a Conferência pudemos assistir aos cases do Jumbo e o Wal-Mart, ambos apoiados pela ASU – União Argentina de Supermercados, apresentados respectivamente por Fabiana Meclazcke, Gerente de Qualidade, e por Fernando Avelleyra, Gerente da Segurança e Qualidade de Alimentos e da Divisão de Meio Ambiente.


Fabiana Meclazcke, Jumbo, Argentina
Foto autoria: Ellen Lopes
Primeiramente Fabiana apresentou uma análise do cenário do setor industrial, com ênfase nos produtores de alimentos de marca própria, cujos fornecedores vinham sendo submetidos a um enorme número de auditorias por ano: de 10 a 30. Relatou que isso implicava em um custo médio de 13 a 40.000 dólares por ano por produtor. Em 2011 uma Comissão da ASU responsável por discutir o assunto, após analisar alternativas fez um acordo para se unirem e trabalharem juntos em busca de uma solução.

Fonte: Site da Conferência

Fonte: Site da Conferência


Em 2012, esta Comissão decidiu que deveriam ter como objetivo principal a elevação dos padrões de segurança de alimentos, além de paralelamente reduzir o número de auditorias, buscar a proteção da marca, aumentar a confiança do consumidor e atender a legislação com vigor. Fabiana contou que vários desafios surgiram, sendo, o maior deles, conseguir uma decisão comum de qual caminho iriam percorrer para atingir este objetivo, além do envolvimento de outros intervenientes no mercado, a preocupação com comunicação e seleção dos instrutores para os treinamentos necessários.
O consenso foi formado em torno da ideia de seguir o programa do Global Market do GFSI. Para quem não sabe ainda do que se trata este programa, sugiro ler neste mesmo blog, o post denominado “Antes do início da Conferência”, de 7 de março de 2013, procurando a parte “Alessandra O. Chiareli participa do TWG Global Markets”.
Na sequência, Fernando do Wal-Mart, explicou as razões dessa escolha: “o modelo do Global Markets do GFSI induz o produtor a realizar mudanças graduais, promove a melhoria contínua de suas práticas e de seus processos, gera mais eficiência e rentabilidade, permite melhor gerenciamento de custo ao longo da cadeia de abastecimento, incentiva o trabalho em equipe, aumenta o compromisso pessoal com a empresa e promove a cultura de segurança de alimentos”.
  

Fernando Avelleyra, Wal-Mart, Argentina
Foto autoria: Ellen Lopes

Para elevar a conscientização, Fernando relatou que em setembro de 2012 foi realizado o 1o Fórum de Segurança de Alimentos com o tema: “Trabalho em conjunto para fornecer alimentos seguros aos nossos clientes”. Em novembro de 2012, o 1° Workshop de Segurança de Alimentos mostrou o sucesso obtido, sintetizado nos slides mostrados a seguir.

Fonte: Site da Conferência

Fonte: Site da Conferência


Fonte: Site da Conferência

Fernando concluiu que o desafio continua, tendo como próximos passos:
– a inclusão de mais empresas no programa
– criação de eventos de treinamento para os fornecedores
– estabelecimento pela ASU de uma política comum para os fornecedores
– harmonização com empresas de consultoria, de órgãos de certificação e do governo.
Ao assistir esse relato dos colegas da Argentina, confesso que fiquei com um pontinha de inveja – por que ainda no Brasil não conseguimos criar uma união dos varejistas em torno do objetivo “mais do que comum” da segurança de alimentos para os produtores de marca própria via um programa semelhante? Suponho que é porque ainda não se conseguiu colocar todos, ou os principais players, em torno de uma mesma mesa para discutir e sacramentar a tal responsabilidade compartilhada. Como representante de consultoria dedicada à cadeia de alimentos há 20 anos, coloco desde já a equipe da Food Design à disposição, com todo o nosso “arsenal” de expertise técnica e comportamental, e de quebra, toda a nossa paixão pelo assunto.
Aguarde os próximos posts sobre os exemplos da África do Sul e Malásia.


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Direto do GFSI: pausa momentânea

Caros leitores, peço desculpas pela minha ausência nos últimos dias.
Devido à intensa demanda de trabalho, não pude ainda fazer o prometido post sobre “Iniciativas GFSI em países em desenvolvimento”.

Agradeço a compreensão. Já dei conta da montanha de trabalho e amanhã esse post estará sem falta no ar.

Não desista, depois desse, por incrível que possa parecer, ainda tem muito mais.







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Clippings sobre fraudes

A série de posts sobre fraude acabou. Mas, devido ao grande número de acesso e interessados, resolvi destacar alguns slides sobre casos de fraudes apresentados nas palestras de Simone Di Meo e Petra Wissenburg. Espero que você goste.

Palestra de Petra Wissenburg
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência


Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência


Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência


Aguardem o próximo post sobre “Iniciativas GFSI em países em desenvolvimento”.









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Gato por lebre em serviço de auditoria: fraude?

Gosto sempre de investigar a origem das palavras. Fraude vem do latim fraus, que tem o conceito de uma ação contrária àquilo que é verdadeiro, correto e honesto. Consiste em enganar para obter vantagem financeira, levando o pagador a acreditar que obteria algo pelo qual pagou, mas na prática não recebendo exatamente aquilo pelo qual pagou.
Refletindo sobre o conceito de fraude de forma mais ampla, concluí que este conceito é obviamente aplicável à área de serviços, pois serviços também podem  ser objeto de fraude. E o pior, como seus atributos e resultados são menos tangíveis que os da área de produtos, estas fraudes são muito menos perceptíveis, porém não menos prejudiciais. Como trabalhamos nos “bastidores” da qualidade, sabemos de vários casos que se caracterizam como fraudes em serviço, e sabemos também que devido à acirrada concorrência essas fraudes vêm aumentando, justamente por não serem tão evidentes assim, e às vezes por não serem sequer percebidas pelas empresas contratantes.

Como boa filha de Piracicaba que sou, vou contar um “causo”. O cliente é real, mas aqui está descaracterizado para impedir sua identificação.
Uma empresa pediu à Food Design 37 auditorias de qualidade e segurança de alimentos para um total de 37 fornecedores, sendo que cada auditoria deveria ser feita em UM dia. Estranhei, porque pelo tipo de empresa e pelos produtos produzidos, havia fornecedores de produtos de alto, médio e baixo risco. E fazer uma auditoria de um dia geralmente não basta para avaliar de forma adequada um sistema de GARANTIA da qualidade e de segurança de alimentos. Expliquei que enviaríamos uma proposta para classificar os insumos conforme os riscos, propondo fazer auditorias com maior tempo e profundidade para os de maior risco, e com menor tempo para os de baixo risco. Informamos que, dependendo da consistência dos critérios, dos dados prévios de qualificação e de acompanhamento, das reclamações, do histórico das verificações etc, talvez fosse desnecessário auditar os de baixo risco. Prontifiquei-me a visitar a empresa solicitante para explicar pessoalmente a proposta, porque claramente a profissional da qualidade que me ligou era ainda crua no assunto. Ela disse que iria passar a proposta para o seu chefe. Voltei a tocar no assunto várias vezes, sem obter resposta. Depois, soube que haviam selecionado a proposta “mais baratinha”, que previa um dia de auditoria em cada fornecedor.
Passaram-se dois anos e a empresa em questão nos chamou após ter sido alvo de denúncia de presença de corpos estranhos no PROCON. Trabalhando depois nessa empresa, vimos que o problema ia bem além dos corpos estranhos, pois o consumidor geralmente percebe apenas aquilo que pode ser visualizado. Ao nos aprofundarmos no caso, vimos que o processo de produção estava bem controlado, mas ao avaliarmos o procedimento de seleção de fornecedores, vimos que este contemplava um check list de cerca de 300 requisitos, que reconheci ser “à  moda da norma IFS (plágio?)”, com uma sistemática de pontuação que não resistia a uma simples simulação de consistência. Pior: cada auditoria havia sido feita em seis horas, sete no máximo. Dividindo os 420 minutos que há em sete horas por 300 requisitos, temos 1,4 minutos por requisito, supondo que o auditor não tenha almoçado, não tenha ido ao toilette e nem feito as reuniões iniciais e finais de praxe. Não precisa ser nenhum grande especialista para perceber que isto só poderia dar no que deu.
Não seria esse um caso de fraude? Analise você mesmo e tire suas conclusões: a empresa contratada para fazer as auditorias se propôs a realizar o trabalho de tal maneira que o seu serviço não entregava o que deveria entregar.
Claro que também poderiamos atribuir a culpa à “profissional-passadora-de proposta-para-o-chefe-analisar”, que não foi capaz de diferenciar uma proposta séria de uma não séria. Mas isto são “outros quinhentos”.
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FRAUDE é assunto para a INTERPOL – você sabia?


Eu nunca havia imaginado que a Interpol cuidasse de fraude também. Os leitores que, como eu, não sabiam disso, provavelmente ficarão surpresos a respeito das proporções que este problema tem atingido.


Simone Di Meo, Diretor de Inteligência Criminal da INTERPOL, França e da Europol, na Holanda reportou que, em 2012, a Comissão de Taxação e Alfândega da União Europeia apreendeu mais de 1,1 milhões de artigos entre alimentos e bebidas nas fronteiras da UE, incluindo desde produtos de luxo, como vinhos e produtos sazonais para datas festivas, como produtos de uso diário, como chá, confeitos e condimentos. Estas fraudes podem envolver desde falsificação de marcas e ou origem, até o uso de outros ingredientes perigosos ou não à saúde.

Di Meo apresentou os objetivos da INTERPOL da Europol, relatando, a seguir, as ações conjuntas que a INTERPOL vem fazendo com a Europol sobre fraude de alimentos e de bebidas.

A INTERPOL é uma organização mundial de polícia internacional, com 190 países membros, sendo o Brasil membro desde 1953. Seu objetivo é permitir que as polícias de todo o mundo trabalhem juntas para fazer do mundo um lugar mais seguro, contando com uma infraestrutura de alta tecnologia de apoio técnico e operacional.

A Europol é uma agência da União Europeia responsável pelo enforcement (adoro este conceito) da lei, ou seja, fazer cumprir a lei, cujo principal objetivo é uma Europa mais segura para o benefício de todos os cidadãos da União Europeia, lutando contra o crime internacional e o terrorismo. A Europol considera que as maiores ameaças de segurança vêm de terrorismo, tráfico de drogas, internacional e lavagem de dinheiro, fraude organizada, a falsificação da moeda euro e tráfico de pessoas. Grifei fraude organizada para destacar a ligação da agência com o assunto.

À esquerda, Simone Di Meo, Interpol, França.
Fonte: site da Conferência

As ações conjuntas com foco em ameaças à saúde, segurança e produtos potencialmente perigosos passaram a ser um dos grandes objetivos destas organizações a partir do projeto criado em 2008, envolvendo todas as commodities, exceto tabaco.

Esta colaboração resultou em duas grandes operações anti-fraude, em 2011 e 2012, denominadas respectivamente OPSON e OPSON II, realizadas em vários países. Estas operações foram respaldadas por apoio analítico de alto nível, e resultaram na detecção de uma enorme quantidade de produtos fraudados.


A seguir veja alguns recortes de clippings sobre fraudes mostrados por Di Meo e se surpreendam com as quantidades envolvidas.



Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

Veja a número de pessoas presas:

Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

E veja mais dados sobre as operações:

Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

Como resultado destas operações, os produtos mais sujeitos à fraude/ países foram: peixe – França; Azeite de oliva – Itália; leite – Islândia; mel – Turquia; sucos de frutas – Tailândia; chá, café e especiarias – Turquia e Itália; vinhos e aguardentes – Itália, França, Turquia e Reino Unido; molho de soja – Tailândia; carne – Colômbia; cubos para preparo de sopas – Dinamarca; molho de tomate – Itália e Egito; Queijo – Itália; caviar e trufas – Espanha e França; e alimentos orgânicos – Itália.
Algumas destas fraudes impactaram fortemente a segurança de alimentos, pela utilização de ingredientes nocivos à saúde, como óleo mineral em azeite de oliva, metanol em bebidas alcoólicas e comida contaminada que iria ser distribuída a pessoas necessitadas, dentre outras.
Não fique você agora desconfiando de tudo quanto é fornecedor destes produtos/ países, porque felizmente a maioria dos fornecedores é confiável. Mas como profissional da qualidade e da segurança de alimentos isto deve servir de alerta de que o sistema de seleção, monitoramento e verificação dos fornecedores deve ser reforçado.








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Cuidado: o mais “barato” pode ser FRAUDE!


Com toda certeza, e graças aos pobres cavalinhos que morreram para “virar boizinhos”, fraude é a “bola da vez”. Fazendo referência ao que disse Petra, da Danone (ver post anterior), casos de fraude têm aumentado devido aos tempos economicamente mais difíceis – será que é só isso?

O post de hoje não é fundamentado em palestras ou debates do GFSI, e sim sobre reflexões que fiz ao atentar para a frase em negrito de um dos slides da Petra – veja no clipping da esquerda: The much vaunted control of big companies over their supply chains is looking tattered, o que em português significa: “O controle tão alardeado por grandes empresas sobre suas cadeias de suprimentos está parecendo esfarrapado”.

Fonte: site da Conferência


Como estou acostumada a pensar de forma sistêmica, a primeira reflexão que me veio à mente é: será que a culpa é dos tempos economicamente difíceis, ou as empresas é que não estão atentas aos problemas de fraude? Será que a política do “mais baratinho” não pesa nisso? Essa política é cada vez mais comum nos departamentos de compra das grandes empresas: o departamento da qualidade tem de conseguir orçamento de três diferentes fornecedores. De posse desses três orçamentos, o comprador, ou melhor, a empresa, assume que os três são de mesmo nível de confiabilidade. Nada de errado nisto, se os três fornecedores tivessem de fato sido avaliados de forma adequada quanto ao seu sistema de GARANTIA da qualidade.


Ilustrando com fato real, mas obviamente contando o milagre sem contar o santo: em uma auditoria, quando eu estava avaliando o critério de seleção de um insumo – ácido fosfórico, pedi evidências de que fosse de grau alimentício. Foi-me mostrado um laudo de análise do próprio fornecedor, que era coreano. O laudo estava em inglês, claro! Questionei como havia sido feita a avaliação do sistema de GARANTIA da qualidade do fornecedor – não havia sido feita, pois o fornecedor ficava na Coréia e ficaria muito caro. Além disso, era ácido, portanto a empresa o considerou de baixo risco (sim para risco microbiológico – mas e os outros riscos?) e de acordo com sua política, para aprová-lo era só pedir laudo. Assim a compra foi decidida apenas com base nos laudos dos fornecedores e nos seus preços, ganhando o mais barato, com “apenas” 15% abaixo do mais caro! O fato é que não nasci ontem, e sei que milagres não acontecem facilmente. Sugeri à empresa tomar ela mesma uma amostra e mandar para analisar em laboratório confiável (sugeri como critério o laboratório ter certificação ISO 17025 para este tipo de análise).


Resultado: era grau técnico e não grau alimentício!

Conclusão: produto fraudado! “Negócio da China”, não? Mas não vá inferindo que por isso eu tenha preconceito contra produtos da China ou Coréia, não! Conheço muitos casos similares, mas fica apenas este como exemplo.


Próximo post: FRAUDE é assunto para a INTERPOL – Você sabia?
“Stay tuned”: ainda há muito assunto até eu terminar de relatar tudo o que pude captar na Conferência.

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Think Tank e a fraude de alimentos

Conforme prometi anteontem, abordarei a segunda parte relativa ao painel de fraude de alimentos hoje.

Petra Wissenburg, Diretora de Qualidade Corporativa da Danone, França, apresentou o trabalho do grupo denominado “Think Tank”, patrocinado por Yves Rey da Danone, França e Frank Yiannas do Wal-Mart, Estados Unidos. Seus membros são a própria Petra, Fayçal Bellatif e Michèlle Lees da Eurofins, Michell Weinberg e Leticia Halchuk da Inscateche e John Spink, da Universidade de Michigan (ver post anterior). Este grupo foi formado em 2012 com o objetivo de discutir, avaliar e propor como o assunto fraude de alimentos pode ser incluído no Documento das Diretrizes do GFSI. Se de fato incluído, o que parece ser tendência será mais um requisito ou grupo de requisitos a serem cumpridos para obtenção das certificações com base nas normas equivalentes do GFSI.

Nota: Penso que “Think Tank“ deve ter sido inspirado na terminologia usada por jornalistas nos Estados Unidos para designar grupos de pesquisa e de formadores de opinião, em geral relacionados com política social, economia, cultura etc.


 

Petra Wissenburg, Danone, França.
Fonte: site da Conferência

Petra comentou que o assunto fraude sempre foi historicamente “ofuscado” pelo assunto segurança de alimentos, e que em tempos economicamente mais difíceis aumenta a “tentação” de grupos inescrupulosos fraudarem alimentos. Ela explicou que há várias abordagens associadas à prevenção, desde inspeções e testes, auditorias e certificações, avaliações de vulnerabilidade, avaliações de risco criminal e modelagem sócio econômica.

Fonte: site da Conferência


Yves Rey, moderador do painel sobre fraude de alimentos, que é Presidente do GFSI e Diretor da Qualidade, Danone, França, comentou que discutiu com o Conselho GFSI que a questão não é “se”, mas “como” fraude de alimentos deve ser incluída no documento que contém as diretrizes do GFSI.


Yves Rey, Presidente do GFSI e Diretor da Qualidade, Danone, França

Fonte: site da Conferência


Ele acrescentou, ainda, que é importante a colaboração público-privada, explicando que o GFSI se aproximou da Iniciativa Anti-Fraude de Alimentos da Universidade de Michigan com o objetivo da criação de um fórum público, para junto com as indústrias identificar problemas específicos para evitar incidentes de fraudes que impactem a segurança de alimentos.



Fonte: site da Conferência









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Atenção: malfeitores assistem cursos antifraude!

Depois de um almoço patrocinado pela The Coca Cola Company, os participantes da Conferência tinham que se desdobrar em seis, caso quisessem assistir os seis diferentes painéis da tarde do segundo dia da Conferência. Eu bem que tentei, mas consegui me “desdobrar” somente em duas: assisti parte do painel sobre Fraude e parte do painel sobre Qualificação para Mercado Global.


Neste post de hoje vou abordar a primeira parte do que consegui captar no painel sobre Fraude, ficando a segunda parte para o próximo post.

John Spink, Professor e Diretor do Programa de Proteção de Produtos e Ações Antifraude da Escola Criminal de Justiça da Universidade de Michigan, Estados Unidos, iniciou sua palestra alertando que malfeitores assistem cursos antifraude.

John definiu: “a fraude de alimentos é uma ação de adulteração intencional, motivada pela busca de ganho econômico, podendo causar ameaças a saúde do consumidor de maior ou menor grau”. Exemplos: o caso recente da carne de cavalo, PCA vendendo produto sabidamente contaminado, melamina em pet food e em fórmula infantil, ocorrido na China, uso de gelo para pescado feito com água contaminada, dentre outros…

A fraude pode ser caracterizada por: diluição, contaminação, substituição, uso de ingredientes ou aditivos não aprovados, rotulagem falseando algum aspecto (data de validade, origem, etc).

Importante alerta dado pelo professor foi que assim como segurança de alimentos, tanto risco de Food Defense como risco de fraude são responsabilidades da gestão da empresa produtora de alimentos. E o pior é “que estes riscos são provavelmente mais graves que os tradicionais riscos de segurança de alimentos, porque em geral não se está atento para eles”.

John Spink, Universidade de Michigan, Estados Unidos

Foto cedida por Edgard Nemorin, Coordenador de Marketing e Comunicação do GFSI

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Codex e GFSI – Pensando globalmente, agindo localmente

Tom Heilandt, Diretor de Normas para Alimentos do Codex Alimentarius, Suíça, mostrou que o Codex tem crescido muito desde sua implementação, sendo atualmente aceito na maior parte do mundo. Por serem estabelecidas com base científica através do consenso de experts de todo o mundo, as normas do Codex têm sido usadas pelos seus membros como base para a adoção de padrões regulatórios.

Tom explicou que o maior desafio do Codex é a busca de regulamentação, o mais harmonizada e global possível, para propiciar o comércio entre os países, mas, na prática, os países têm diferentes maneiras de fazerem as coisas, diferentes necessidades e capacidades e diferentes níveis de proteção da saúde de sua população.

Com a ideia de pensar globalmente, mas agir localmente é que foram criadas as Comissões de Coordenação Regionais. São seis comissões de coordenação: para a África, em Camarões; para a Ásia, no Japão; para a Europa, na Polônia; para a América Latina e Caribe, na Costa Rica; para o Oriente Médio, no Líbano; e para a América do Norte/Sudoeste do Pacífico, na Papua – Nova Guiné. Cada comissão de coordenação tem a função de definir os problemas e necessidades da região sobre padrões alimentares e controles de alimentos, promover contatos para a troca de informações sobre as propostas de iniciativas de regulamentação, estimular o fortalecimento da infra-estrutura local de controle de alimentos, exercer um papel de coordenação geral para a região e recomendar o desenvolvimento de padrões globais para produtos de interesse da região.

Foto de slide feita durante a Conferência


Codex e GFSI

Uma grande discussão atual é o monitoramento da performance regulatória dos sistemas nacionais de controle de alimentos, qual sua métrica, e se estas podem ser usadas para comparação entre países. Tom finalizou informando que há um objetivo de ter uma Diretriz Codex para este fim até 2014, e o GFSI pode contribuir muito com o Codex a respeito deste assunto.

Tom Heilandt, Codex Alimentarius, Suíça
Fonte: site da Conferência




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O sistema de gestão de segurança todo deve ser desafiado

No momento estou fazendo meu terceiro turno em Três Corações, Minas Gerais, e para aguentar o sono, estou bebendo um delicioso Capuccino Diet Três Corações, que descobri que não é feito em Três Corações, e sim em Santa Luzia, Minas Gerais.

Deixando de lado os corações, vamos continuar hoje com a ajuda da amiga Ana Cláudia Peluso, da Novozymes do Brasil, a quem agradeço pela colaboração. Para você que está acompanhando o blog, já deu para perceber que é tanta coisa que acontece por lá, tantos eventos paralelos, que a gente não consegue ir a todos. E foi isso que ocorreu em um café da manhã patrocinado pela LRQA – Lloyd’s Register Quality Assurance, do qual ela participou e eu não, mas sobre o qual ela gentilmente escreveu para o Direto do GFSI.

Ana Cláudia Peluso e minha xará Ellen Watanabe indo para o evento.

Fonte: site da Conferência do GFSI 



A palavra agora é da Ana:
           
A palestra do Cor Groenveld, Diretor Global de Serviços de Food Supply Chain, do LRQA, chamou a minha atenção basicamente pela mudança de metodologia que as auditorias em Food Safety devem trazer para as empresas. Temos de sair de modelos com foco em inspeções superficiais do sistema, para um modelo onde o sistema de gestão todo deve ser desafiado. Sim, posso dizer desafiado, pois a empresa deverá demonstrar a eficácia do seu sistema de gestão. Os pontos principais desta mudança devem ser: foco na segurança do consumidor, mais auditorias em fornecedores e uma profunda mudança cultural. TODOS devem falar a mesma língua. Começando da alta direção até a área de recursos humanos e financeiros. Isto tudo pressupõe ter mais auditorias internas, devendo haver muito investimento na formação de auditores internos para Food Safety.

Cor Groenveld, LRQA, Reino Unido

Fonte: site do LRQA


Na fase de implementação é fundamental trabalhar com consultores altamente capacitados para que o sistema seja de fato eficaz. A empresa deve ser capaz de evidenciar esta eficácia, tanto nas partes que o compõem, como no todo. Exemplificando: eficácia do sistema de limpeza, do detector de metais, dos PCCs ou ainda, se efetivamente foi feita uma análise de todos os riscos.


Retomando a palavra, agora num diálogo entre mim e a Ana:
            
Ellen para Ana: “Eu fiquei bastante entusiasmada com esta forma de pensar, pois é assim que nós da Food Design pensamos, ou seja, temos de desafiar o sistema. Tenho me especializado no desenvolvimento destes “challenges”, tanto para Food Safety como para Food Defense, tendo tido como escola o sistema GMA SAFE – Supplier Assessments for Food Excellence. (Mais uma sistema de certificação? Não! Apenas o melhor sistema de auditoria que conheço para uma avaliação realmente profunda, desafiadora e consistente do sistema de gestão da qualidade e da segurança de alimentos).” 

Ana para Ellen: “A abordagem que vocês estão fazendo é a mais apropriada, é a que faz sentido não é!? Um sistema deve ser robusto por inteiro, com o envolvimento de todos. Se não, é só “para inglês ver”. Acho que isso é importante indicar.”

Aguarde o próximo post com a visão do Codex Alimentarius:  Equivalência – pensando globalmente, mas agindo localmente







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213% de crescimento em três anos é um bom resultado?

Iván Báez, Sócio e Gerente Geral da Empresa Eman, no Chile, muito entusiasmado com sua estratégia de busca de produção de alimentos mais seguros, mostrou que isso não resultou somente no cumprimento de exigências legais, mas possibilitou que sua empresa atingisse novos clientes e novos mercados. Iván observou um “adorável” efeito secundário à implementação de um sistema de gestão da segurança de alimentos: a melhoria da qualidade e da produtividade, com um crescimento nas vendas de 213% em três anos.

 A Eman é uma pequena empresa dedicada à produção e engarrafamento de licores de creme, localizada na região de Araucanía, no Chile. A empresa nasceu em 2006 por iniciativa de Iván e mais dois empreendedores, que fundaram o negócio com 40.000 Euros e tiveram muito sucesso com a produção de um licor muito típico chileno chamado “Cola de Mono”. Mais recentemente passaram a se dedicar também à produção de creme alcoolizado, que conseguiram exportar para a produção do famoso licor Bailey’s.

O empresário contou que iniciou em 2009 a implementação de GMP, tendo a seguir se empenhado na implementação de um dos sistemas de gestão da segurança de alimentos reconhecidos pelo GFSI, conquistando a certificação em 2011.

 Iván Báez, da empresa Eman, Chile

Autor da foto: Cong Xue, constante no site da Conferência.


Os resultados mostrados durante a Conferência falam por si próprios.

 Autor foto: Ellen Lopes


 Autor foto: Ellen Lopes


Autor foto: Ellen Lopes


Finalizo este post esperando que, este exemplo, possa ser fonte de inspiração para nossos pequenos e médios empresários.
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