SÉRIE IRSFD – CASOS DE SUCESSO – Meu Quintal Orgânicos – oito anos de história de produção de alimentos em sistema orgânico

Hoje vamos mostrar o caso de sucesso da empresa Meu Quintal Orgânicos, fundada em novembro de 2013. O projeto teve início em 2012, ainda na universidade, quando Augusto e seu irmão Guilherme estudavam Engenharia Agronômica na ESALQ – USP. O projeto foi iniciado dentro do Amaranthus, um Grupo de Estudos em Agricultura Orgânica. Foi implementado na Cidade de Cordeirópolis, onde os irmãos passaram a produzir alimentos em sistema orgânico.

Já são oito anos de produção, ao longo dos quais a área produtiva teve uma expansão de 5.000m2 para 100.000m2. A diversidade de itens plantados nesse tempo foi mais do que triplicada e hoje a empresa atua em oito cidades além de Cordeirópolis: Limeira, Iracemápolis, Santa Gertrudes, Rio Claro, Araras, Campinas, Paulínia e Piracicaba, com delivery de cestas personalizadas que podem ser encomendadas através do site da organização: www.meuquintalorganicos.com.br.

Segue-se a entrevista feita com Augusto Aguiar Rocha, Eng. Agrônomo – Proprietário responsável pela área Comercial da Meu Quintal Orgânicos.

Mayara: Qual a visão e a filosofia da empresa?

Augusto: A ideia sempre foi oferecer mais do que somente o alimento. Nosso objetivo é levar um alimento orgânico seguro, junto com informações importantes sobre nossos produtos. Esse contato direto entre produtor e consumidor é o que buscamos: através das nossas vendas de cestas, podemos trabalhar aspectos importantes como a sazonalidade e o zoneamento climático, além de trocarmos informações e tirarmos dúvidas.

Mayara: Quais produtos orgânicos vocês cultivam?

Augusto: Trabalhamos com produtos orgânicos hortifruti, sempre respeitando a época do ano, a aptidão produtiva da terra e a nossa também, como produtores. São produtos variados desde frutas: bananas, abacate, limões… até hortaliças tais como cenoura, beterraba, alface e couve.

Mayara: Como vocês realizam o controle de pragas nesse sistema de produção orgânica?

Augusto: Buscamos o equilíbrio do sistema produtivo e por isso utilizamos poucos insumos para controle de insetos que não são de interesse da cultura. Com o passar dos anos e o amadurecimento da área como um sistema orgânico de produção, há a correção de alguns desequilíbrios através do aumento de população de alguns insetos predadores que ocorre naturalmente quando necessário. É lógico que, como o Meu quintal Orgânicos precisa ser também sustentável economicamente, muitas vezes se faz necessário o uso de alguns insumos para controlarmos desequilíbrios. Claro que não podemos usar agrotóxicos, mas tão somente insumos que sejam regulamentados instrução normativa IN 46 do MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, a que regulamenta os Sistemas Orgânicos de Produção.

Nota: se você quiser ver essa IN clique aqui.

Mayara: Vocês têm a certificação de produtos orgânicos. Conte-nos como foi essa conquista e quais foram os impactos na sua empresa após essa certificação.


Augusto: Nossa área conseguiu a certificação orgânica em 2014, após o período de conversão da propriedade que, no nosso caso, foi de um ano. A certificação de produtos orgânicos foi uma conquista importante principalmente para os nossos clientes. Pois ela atesta a qualidade orgânica do processo produtivo e gera segurança ao consumidor ao adquirir os alimentos. Não poderíamos manter nossa produção sem esse respaldo.

Mayara: Como vocês realizam as vendas dos produtos?

Augusto: Nossas vendas sempre foram feitas de maneira direta ao consumidor final. Através de feiras-livres, eventos, feiras em lojas de produtos naturais e delivery. Atualmente, devido à pandemia, migramos toda a nossa comercialização para e-commerce. Foi a maneira que encontramos de gerar mais segurança para nossos consumidores e colaboradores durante esse período de reestruturação pelo qual estamos passando.

Mayara: A pandemia trouxe algum impacto no consumo dos produtos?

Augusto: De maneira geral, podemos dizer que a comercialização dos produtos orgânicos durante a pandemia não teve nenhum aumento expressivo quando comparada à época pré-COVID-19. Houve a mudança do canal de comercialização de feira para delivery, mas o volume de alimentos produzidos teve uma redução. Entretanto a venda no delivery foi mais eficiente que a feira-livre, no que diz respeito ao desperdício de alimentos colhidos, uma vez que somente alimentos encomendados saíram do campo.

Mayara: Eu como consumidora de alguns produtos orgânicos, como por exemplo morango, percebo que eles têm maior vida útil. E percebo que o aroma, o sabor e a são melhores se comparados com os tradicionais. Essa diferença para melhor sempre acontece?

Augusto: Apesar de particularmente eu acreditar que as plantas produzidas em sistema orgânico possuem sabores e aromas mais intensos do que as produzidas em sistema convencional, não existe consenso científico a respeito disso. O que podemos afirmar é que as características organolépticas dos alimentos produzidos em sua época correta tendem a ser mais saborosas e aromáticas. É uma condição natural evolutiva, pois o fruto se torna mais atrativo para seu consumo, quando esse está preparado para que insetos, pássaros ou outros visitantes carreguem suas sementes, fazendo com que a dispersão aconteça de maneira mais efetiva.

Mayara: Existem conceitos errados em relação aos produtos orgânicos. Você poderia levantar quais são os mais comuns e explicá-los?


Augusto: Vou focar no questionamento mais importante sobre a produção de alimentos orgânicos, que em minha opinião, é sobre a possibilidade ou não, desse tipo de produção ser capaz de alimentar o mundo. Essa pergunta é sempre encaminhada para o lado técnico da questão. São colocados à prova dados de produtividade e de consumo, quando na verdade, a grande questão deveria girar em torno dos costumes e hábitos da população. A produção de alimentos orgânicos só será capaz de alimentar o mundo se criarmos o entendimento de que o consumo de alimento deve seguir pelo menos duas premissas básicas:  a SAZONALIDADE, ou seja, o conhecimento de quais alimentos são produzidos em determinada época do ano para que se dê preferência ao seu consumo nessa época e  o ZONEAMENTO CLIMÁTICO: o entendimento do local geográfico em que o consumidor está estabelecido e que seu consumo deverá ser compatível com os alimentos cultivados em tal região.


Percebe-se assim que a condição para que a agricultura orgânica produza alimentos suficientes para alimentar o mundo é muito mais de conscientização da população do que de capacidade técnica propriamente dita. Dessa forma, se essas premissas forem atendidas pelo consumidor, então, podemos afirmar que a agricultura orgânica se torna capaz de alimentar o mundo.

Autor: Mayara Athayde, Relacionamento – IRSFD

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