FSMA reforça a prevenção

O Food Safety Modernization Act – FSMA, assinado por Barack Obama em 4 de janeiro de 2011 estabeleceu a reforma mais radical dos últimos tempos para a segurança de alimentos nos Estados Unidos. Essa lei dá ao FDA novos mandatos e autoridade para proteger os consumidores e promover a saúde pública, sendo sua “pedra fundamental” a necessária mudança do enfoque “só inspeção” para o enfoque PREVENÇÃO. Isso, claro, sem deixar de lado as necessárias inspeções.
Obama assinando a lei FSMA

Foi justamente sobre o FSMA a palestra proferida por David Theno, que assisti ao final do segundo dia. Ele é o Vice Presidente de Segurança de Alimentos e Tecnologia da United Fresh Produce Association, Estados Unidos.

David Theno, United Fresh Produce Association, Estados Unidos

Antes de sua publicação, muitos surtos de doenças veiculadas por alimentos envolvendo patógenos já vinham pressionando a opinião pública. Um desses casos é o do menino Kevin, falecido em 2001 por infecção causada por E.coli O157:H7, que resultou na chamada “Kevin’s Law” (Meat and Poultry Pathogen Reduction and Enforcement Act of 2003).
David relatou que mais recentemente 72 surtos relacionados a produtos frescos, como tomate, alface, espinafre, dentre outros, geraram uma forte comoção pública, levando o FDA a criar a lei FSMA. Veja no clippingabaixo um artigo que saiu no New York Times sobre o surto de Salmonella em tomate (2008), onde consta uma acusação veemente de que “o FDA teria falhado em seus objetivos de proteger o suprimento de alimentos”.

Fonte: Site da Conferência

No caso de matérias-primas agrícolas, a lei aplica-se a frutas e legumes, cogumelos, nozes, brotos, bem como a misturas de frutas e vegetais, sendo válida tanto para produtos nacionais como importados, referindo-se somente às partes comestíveis, incluindo casca, mas não o restante da planta. Não se aplica a uma extensa lista dos “raramente consumidos crus” e nem a produtos que são processados (deve haver registro do responsável pelo processamento).
David explicou que o FSMA está em processo de regulamentação, e que essa regulamentação prevê pelo menos cinco aspectos considerados fundamentais: segurança do produto, controles preventivos para a alimentação humana, controles preventivos para a alimentação animal, verificação de fornecedores de produtos importados, acreditação de terceira parte. Segundo ele, “ainda há muito mais por vir, uma vez que a regulamentação está apenas começando.
Desde 16 de janeiro até 16 de maio de 2013 a proposta inicial de regulamentação está em consulta pública, sendo esta data sujeita a prorrogação. A publicação da regulamentação final pelo FDA está prevista para sair entre 2013 e 2014. O ano de 2016 será, provavelmente, o primeiro ano a partir do qual será efetivamente exigida sua aplicação, havendo entretanto escalonamento para empresas pequenas e para muito pequenas.
Voltando ao assunto de matérias primas agrícolas, David relatou que existem muitas normas sobre GAPs – Good Agricultural Practices nos Estados Unidos, mas que muitos esforços devem ser feitos com o objetivo de harmonizar as diferentes normas existentes, a fim de que estes GAPs sejam usados por todos os sistemas de auditorias, – como por exemplo, GlobalGAP, SQF, USDA.

Fonte: Site da Conferência
Meus comentários
Nós técnicos do mundo da gestão da segurança de alimentos já sabemos há muito tempo que o enfoque de inspeção sem o necessário enfoque em prevenção tem pouca valia. E é justamente por isso que o mundo de fato preocupado “cá fora” com a segurança dos consumidores, mais do que a “segurança dos alimentos” vem exigindo as tais certificações em gestão de segurança de alimentos.
Como “operária” da segurança de alimentos desde que comecei a trabalhar com HACCP lá pelos idos 1980, confesso que fico até surpresa que somente agora é que “as fichas estão caindo para as autoridades de lá dos USA”.
E fico a me perguntar: quando será que vai cair a ficha do “lado mais cá abaixo do Equador?
Só falta agora também que as autoridades financeiras de algumas empresas entendam que o enfoque tem de ser de fato técnico-científico, baseado em séria e profunda avaliação de risco, e não se iludir com o enfoque do tipo “o que importa é o certificado pregado na parede”, e de preferência pelo valor mais baratinho…

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Um vídeo da 3M para “Food Safety lovers”

A 3M, tem sido sempre um dos grandes patrocinadores das Conferências do GFSI. Neste ano consegui permissão da 3M para divulgar um dos vídeos, que tenho certeza de que os apaixonados pelo assunto de segurança de alimentos vão adorar, apesar de ser muito triste, pois traça uma retrospectiva histórica “dando a cara” de alguns personagens importantes desta trajetória.
O trecho que mais me impressionou foi a expressão de amargura do David Theno, ex-Vice Presidente de Segurança de Alimentos do Jack in the Box, com fotos de duas das quatro crianças que morreram no fatídico episódio da E.coli O157:H7 em 1993.
Após perder milhões de dólares e quase falir, a empresa contratou David para implementar – nada mais nada menos – do que nosso famoso sistema APPCC/HACCP! O sistema de seleção, monitoramento e verificação de fornecedores foi reforçado, os processos produtivos e de manipulação foram avaliados, e medidas de controle foram tomadas, algumas tão simples como passar a higienizar as pinças para pegar os hambúrgueres. Além dos aspectos técnicos, acertadamente David tinha também o objetivo de criar uma forte cultura de higiene na organização, sem o que seus esforços de nada teriam adiantado. 

David Teno, ex-Vice Presidente de Segurança de Alimentos do Jack in the Box, USA


Fotos de crianças vitimadas pelo episódio de E. Coli do Jack in the Box, em 1993, USA

O vídeo só está disponível em inglês. Para quem ainda não está fluente nesta ainda universal língua, é uma boa oportunidade para se animar a aprender um pouco mais. (Disse “ainda”,  porque no futuro talvez este papel seja ocupado pelo mandarim, que comecei a aprender no ano passado, mas devido às inúmeras viagens virou um tapete de Penélope: eu aprendia os cinco tons de cada vogal, e a cada viagem desaprendia e voltava para trás…. Só volto a estudar mandarim quando tiver uma posição menos “viajeira”).

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Exemplo de parceria público–privada na Malásia

Mais uma vez tive que fazer uma “pausa momentânea”, nem tão momentânea assim, pois acabei ficando “fora do ar” desde 11 de abril. Mas penso que os leitores entendem que o blog é uma atividade paralela ao trabalho da Food Design, que por vezes é muito intenso e que não pode parar.
Dando continuidade aos exemplos sobre iniciativas de implementação de sistemas de gestão da segurança de alimentos com base no Programa Global Markets do GFSI, vou apresentar os cases da Malásia, apresentados por Cenk Gurol, Presidente da AEON, Japão, por Ali Badarneh, Diretor de Desenvolvimento Industrial da UNIDO – United Nations Industrial Development Organization, Áustria, e por Siti Noorbaiyah Abdul Malek, CEO da UNIPEQ, Malásia. (Os nomes que soam tão diferentes para nós, que sequer dá para saber se são masculinos ou femininos, mas vendo as fotos você vai identificar).
Cenk Gurol apresentou a empresa AEON, sede no Japão, que é o maior varejista na Ásia, com 15.008 lojas e 222 shoppings, uma receita de vendas de 65 milhões de dólares, além de ter 29.760 milhões de membros do cartão de crédito AEON, uma potência! O grupo possui empresas que vão desde lojas de conveniência chamadas “Ministop” até supermercados em shopping centers.
Abaixo seguem dados da Malásia para contextualizar o cenário daquele país:

Fonte: Site da Conferência
Na Malásia a AEON é o segundo grupo varejista e tem planos de abrir 100 lojas até 2020.
Cenk contou que a AEON e a UNIDO estabeleceram uma parceria público-privada, firmando um modelo de infraestrutura neutra e sustentável sustentada para os países da ASEAN – Associação de Nações do Sudeste Asiático e que foi criado o programa chamado SSDP – Sustainable Supplier Development Programme, que tem como objetivos permitir que fornecedores de países em desenvolvimento tenham acesso a novas e rentáveis oportunidades de mercado, estabelecendo vínculos duradouros com potenciais compradores e aumentando a disponibilidade de produtos sustentáveis e seguros, o que gera novos empregos e oportunidades de renda em países em desenvolvimento. Cenk fez uma interessante exposição comentando que: “o maior desafio foi harmonizar a relação entre a segurança de alimentos e a responsabilidade social, para atender ao objetivo de melhorar a sustentabilidade do ponto de vista social, ético e ambiental. O projeto foi iniciado em 2013 e deve durar até fevereiro de 2014.
A seguir Ali Badarneh discorreu sobre a UNIDO: uma agência especializada pertencente às Nações Unidas, cujo mandato é promover e acelerar o desenvolvimento industrial sustentável em países em desenvolvimento e economias em transição, bem como trabalhar para melhorar as condições de vida nos países mais pobres do mundo. Foi criada em 1966 e tem 173 Estados-Membros. Para saber mais da UNIDO, clique aqui. Ali explicou que a UNIDO é um membro do Comitê do Global Market do GFSI desde 2009, quando fez um projeto piloto no Egito, iniciando com o nível básico do Protocolo Global Markets do GFSI, que evoluiu para o nível intermediário em 2010. Com base nesta experiência, é que a UNIDO estabeleceu a mencionada parceria com a AEON.

Ali Badarneh, UNIDO, Áustria
Autor foto: Ellen Lopes

Ali explicou que o programa prevê uma fase piloto com 25 fornecedores, seguida da fase de de roll-out com 100 fornecedores e mostrou os stakeholders que se uniram para viabilizar o projeto.

Fonte: Site da Conferência
Siti N. Abdul Malek, Phd, da UNIPEQ, Malásia finalizou o painel explicando que a empresa UNIPEQ foi integrada em 2009 à Universidade Kebangsaa, e é especializada em fornecimento de serviços de qualidade e segurança de alimentos, reconhecida tanto por agências governamentais como pelo segmento privado.


Siti Malek, UNIPEQ, Malásia

Autor foto: Ellen Lopes
A UNIPEQ foi identificada como um interlocutor privilegiado, de fundamental importância para facilitar a integração com a cultura e hábitos locais, responsável por adaptar e desdobrar os treinamentos conforme o nível de conhecimento dos multiplicadores. Um exemplo de adaptação mencionado por Siti, são os requisitos Halal, que ganham cada vez mais força no mundo, na medida em que populações muçulmanas crescem em todo o mundo, conforme mostrou ela no slide abaixo.

 
Fonte: Site da Conferência
Com este post eu encerro a série dos cases de implementação do Programa Global Markets do GFSI.

Não saia do ar, seja como um bom brasileiro “que não desiste nunca”, pois antes de ir para o jantar do segundo dia, falta ainda, por mais incrível que pareça, mais um painel a que assisti durante as seções tipo “break-out sessions”. Até breve!



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Colaboração traz sucesso – cases da África do Sul

Dando continuidade aos exemplos sobre iniciativas de implementação de sistemas de gestão da segurança de alimentos com base no Programa Global Markets do GFSI, os cases de hoje são da África do Sul, apresentados por Ronel Burger, Gerente da Unidade de Negócios do Conselho de Bens de Consumo da África do Sul (CGCSA) e por Silnia Badenhorst, Gerente de Segurança de Produtos da empresa Massmart.
Abaixo seguem dados da África do Sul para contextualizar melhor o cenário daquele país, onde as primeiras eleições democráticas ocorreram somente em 1994, depois de 46 anos da oficialização do apartheid.


Fonte: Site da Conferência
Ronel explicou que “a CGCSA é uma ONG fundada em 2009, que representa 11.000 empresas de bens de consumo, tanto fabricantes como varejistas e atacadistas da a África do Sul que tem a missão de promover parcerias e interação entre as empresas membros, buscando resolver problemas de natureza não concorrenciais”, e que dentro desta associação foi formado o FSI – Food Safety Initiative, “uma iniciativa dos membros das indústrias, dedicada à proteção da saúde pública e do consumidor na área de segurança de alimentos, baseando-se em evidências científicas para orientar decisões transparentes e inclusivas. Um dos principais objetivos do FSI é reduzir o número de auditorias de segurança de alimentos”.
Como o leitor vai perceber, essa ONG seguiu “protocolo” semelhante ao da ASU da Argentina, mencionado no post anterior, porém com um ingrediente a mais: o apoio da UNIDO, a United Nations Development Organization, conforme relato mais abaixo.
A UNIDO tem dado um forte apoio a países africanos. Eu mesma já desenvolvi um trabalho de formação teórica de instrutores de APPCC/HACCP em Moçambique em 2011 para a UNIDO, de forma remunerada. Em 2012, como a UNIDO não tinha mais verba para o projeto, eu e Jonathan Motillon da Equipe Food Design, com nossos próprios recursos mais o apoio da Food Design, complementamos este trabalho, orientando e revisando estudos práticos realizados em três empresas lá de Moçambique. Além desse trabalho, Pablo Laube, também da nossa equipe, com o patrocínio da Food Design esteve durante um mês lá, para ministrar uma das disciplinas do primeiro curso de mestrado em alimentos de Moçambique.

Ronel Burger, CGCSA, África do Sul
Voltando à palestra da Ronel, ela contou que esta iniciativa foi fundada em 2009, e após muitas discussões com os varejistas e atacadistas, em 2010 o FSI chegou a um “novo e estimulante modelo de consenso denominado SAFSA – South African Food Safety Initiative, que inclui o Programa de Capacitação na Indústria de Alimentos Sul Africana, fundamentado nas recomendações do Global Markets do GFSI. bem como estabeleceu o NET Safe – um sistema nacional de recall”.
Ronel mostrou que embora esta iniciativa esteja ainda em sua infância, o FSI, juntamente com os demais stakeholders, está trabalhando duro para tornar isso uma realidade e que após traçar o caminho a ser seguido e que auxiliados por Frank Yiannas, Vice Presidente Corporativo de Segurança de Alimentos do Wal-Mart, no papel de Vice Presidente do GFSI, e pela UNIDO- United Nations Development Organization traçaram o caminho a ser seguido, e já colhem os frutos das primeiras iniciativas piloto e vários aspectos positivos, mostrados a seguir por Silnia.
Abaixo estão apresentados os stakeholders do modelo:

Fonte: Site da Conferência


Fonte: Site da Conferência


Silnia Badenhorst, Massmart, África do Sul.
Fonte: Site da Conferência
Silnia, da Massmart, a maior distribuidora de bens de consumo e o maior atacadista de alimentos básicos na África, com 302 lojas na África do Sul e em outros 12 países sub-saarianos, contou que, como resultado destes esforços, o cenário já está mudando e vários aspectos positivos já podem ser identificados, conforme cópia do slide cedida pelo GFSI:

Silnia relatou que os sistema de auditoria com foco nos esquemas do GFSI têm as seguintes vantagens:
– Melhora a saúde e a segurança do consumidor
Dá sustentação à segurança dos alimentos, com padrão preventivo e orientado
– Melhora as normas de segurança  de alimentos do campo à mesa
– Garante que os riscos alimentares sejam identificados e administrados
– Garante o cumprimento da legislação nacional
– Protege a reputação da indústria
– Não apresenta nenhum risco anti-concorrencial
– É reconhecido internacionalmente para o comércio global
– Simplifica as auditorias de fornecedores
– Minimiza os custos de abastecimento da cadeia
– Permite, passo-a-passo, a execução com foco na melhoria contínua
– Cria conformidade em toda a cadeia de abastecimento
– Assiste pequenos fornecedores 



Fonte: Site da Conferência
Silnia finalizou dizendo que ainda existem muitos trabalhos a serem completados, e diversos desafios a serem enfrentados. Mas os resultados dos pilotos realizados mostram melhoras significativas, conforme pode ser observado na cópia dos slide abaixo, cedida pelo GFSI. Vale mencionar que não entendi o que é “BL”, mas o importante é observar a melhoria entre a primeira auditoria em azul, e a segunda, em verde, depois do treinamento realizado de acordo com o modelo adotado.

Fonte: Site da Conferência  
Podemos concluir afirmando que estamos diante de mais um grande exemplo de espírito associativo a ser seguido, certo?

Aguarde próximo post: o case da Malásia.


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Iniciativas GFSI em países em desenvolvimento – case Argentina

Começo hoje a relatar exemplos sobre iniciativas de implementação de sistemas de gestão da segurança de alimentos com base no Programa Global Markets do GFSI em mercados emergentes.
Um ponto importante a ser observado pelo leitor é que em todos os exemplos apresentados pode-se claramente ver consubstanciada a ideia da responsabilidade compartilhada, tema da Conferência de 2012, e como esse conceito resultou em sucesso na Argentina, África do Sul e Malásia.
Começando pela Argentina, durante a Conferência pudemos assistir aos cases do Jumbo e o Wal-Mart, ambos apoiados pela ASU – União Argentina de Supermercados, apresentados respectivamente por Fabiana Meclazcke, Gerente de Qualidade, e por Fernando Avelleyra, Gerente da Segurança e Qualidade de Alimentos e da Divisão de Meio Ambiente.


Fabiana Meclazcke, Jumbo, Argentina
Foto autoria: Ellen Lopes
Primeiramente Fabiana apresentou uma análise do cenário do setor industrial, com ênfase nos produtores de alimentos de marca própria, cujos fornecedores vinham sendo submetidos a um enorme número de auditorias por ano: de 10 a 30. Relatou que isso implicava em um custo médio de 13 a 40.000 dólares por ano por produtor. Em 2011 uma Comissão da ASU responsável por discutir o assunto, após analisar alternativas fez um acordo para se unirem e trabalharem juntos em busca de uma solução.

Fonte: Site da Conferência

Fonte: Site da Conferência


Em 2012, esta Comissão decidiu que deveriam ter como objetivo principal a elevação dos padrões de segurança de alimentos, além de paralelamente reduzir o número de auditorias, buscar a proteção da marca, aumentar a confiança do consumidor e atender a legislação com vigor. Fabiana contou que vários desafios surgiram, sendo, o maior deles, conseguir uma decisão comum de qual caminho iriam percorrer para atingir este objetivo, além do envolvimento de outros intervenientes no mercado, a preocupação com comunicação e seleção dos instrutores para os treinamentos necessários.
O consenso foi formado em torno da ideia de seguir o programa do Global Market do GFSI. Para quem não sabe ainda do que se trata este programa, sugiro ler neste mesmo blog, o post denominado “Antes do início da Conferência”, de 7 de março de 2013, procurando a parte “Alessandra O. Chiareli participa do TWG Global Markets”.
Na sequência, Fernando do Wal-Mart, explicou as razões dessa escolha: “o modelo do Global Markets do GFSI induz o produtor a realizar mudanças graduais, promove a melhoria contínua de suas práticas e de seus processos, gera mais eficiência e rentabilidade, permite melhor gerenciamento de custo ao longo da cadeia de abastecimento, incentiva o trabalho em equipe, aumenta o compromisso pessoal com a empresa e promove a cultura de segurança de alimentos”.
  

Fernando Avelleyra, Wal-Mart, Argentina
Foto autoria: Ellen Lopes

Para elevar a conscientização, Fernando relatou que em setembro de 2012 foi realizado o 1o Fórum de Segurança de Alimentos com o tema: “Trabalho em conjunto para fornecer alimentos seguros aos nossos clientes”. Em novembro de 2012, o 1° Workshop de Segurança de Alimentos mostrou o sucesso obtido, sintetizado nos slides mostrados a seguir.

Fonte: Site da Conferência

Fonte: Site da Conferência


Fonte: Site da Conferência

Fernando concluiu que o desafio continua, tendo como próximos passos:
– a inclusão de mais empresas no programa
– criação de eventos de treinamento para os fornecedores
– estabelecimento pela ASU de uma política comum para os fornecedores
– harmonização com empresas de consultoria, de órgãos de certificação e do governo.
Ao assistir esse relato dos colegas da Argentina, confesso que fiquei com um pontinha de inveja – por que ainda no Brasil não conseguimos criar uma união dos varejistas em torno do objetivo “mais do que comum” da segurança de alimentos para os produtores de marca própria via um programa semelhante? Suponho que é porque ainda não se conseguiu colocar todos, ou os principais players, em torno de uma mesma mesa para discutir e sacramentar a tal responsabilidade compartilhada. Como representante de consultoria dedicada à cadeia de alimentos há 20 anos, coloco desde já a equipe da Food Design à disposição, com todo o nosso “arsenal” de expertise técnica e comportamental, e de quebra, toda a nossa paixão pelo assunto.
Aguarde os próximos posts sobre os exemplos da África do Sul e Malásia.


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Direto do GFSI: pausa momentânea

Caros leitores, peço desculpas pela minha ausência nos últimos dias.
Devido à intensa demanda de trabalho, não pude ainda fazer o prometido post sobre “Iniciativas GFSI em países em desenvolvimento”.

Agradeço a compreensão. Já dei conta da montanha de trabalho e amanhã esse post estará sem falta no ar.

Não desista, depois desse, por incrível que possa parecer, ainda tem muito mais.







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Clippings sobre fraudes

A série de posts sobre fraude acabou. Mas, devido ao grande número de acesso e interessados, resolvi destacar alguns slides sobre casos de fraudes apresentados nas palestras de Simone Di Meo e Petra Wissenburg. Espero que você goste.

Palestra de Petra Wissenburg
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência


Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência


Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência

Palestra de Simone Di Meo
Fonte: Site da Conferência


Aguardem o próximo post sobre “Iniciativas GFSI em países em desenvolvimento”.









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Gato por lebre em serviço de auditoria: fraude?

Gosto sempre de investigar a origem das palavras. Fraude vem do latim fraus, que tem o conceito de uma ação contrária àquilo que é verdadeiro, correto e honesto. Consiste em enganar para obter vantagem financeira, levando o pagador a acreditar que obteria algo pelo qual pagou, mas na prática não recebendo exatamente aquilo pelo qual pagou.
Refletindo sobre o conceito de fraude de forma mais ampla, concluí que este conceito é obviamente aplicável à área de serviços, pois serviços também podem  ser objeto de fraude. E o pior, como seus atributos e resultados são menos tangíveis que os da área de produtos, estas fraudes são muito menos perceptíveis, porém não menos prejudiciais. Como trabalhamos nos “bastidores” da qualidade, sabemos de vários casos que se caracterizam como fraudes em serviço, e sabemos também que devido à acirrada concorrência essas fraudes vêm aumentando, justamente por não serem tão evidentes assim, e às vezes por não serem sequer percebidas pelas empresas contratantes.

Como boa filha de Piracicaba que sou, vou contar um “causo”. O cliente é real, mas aqui está descaracterizado para impedir sua identificação.
Uma empresa pediu à Food Design 37 auditorias de qualidade e segurança de alimentos para um total de 37 fornecedores, sendo que cada auditoria deveria ser feita em UM dia. Estranhei, porque pelo tipo de empresa e pelos produtos produzidos, havia fornecedores de produtos de alto, médio e baixo risco. E fazer uma auditoria de um dia geralmente não basta para avaliar de forma adequada um sistema de GARANTIA da qualidade e de segurança de alimentos. Expliquei que enviaríamos uma proposta para classificar os insumos conforme os riscos, propondo fazer auditorias com maior tempo e profundidade para os de maior risco, e com menor tempo para os de baixo risco. Informamos que, dependendo da consistência dos critérios, dos dados prévios de qualificação e de acompanhamento, das reclamações, do histórico das verificações etc, talvez fosse desnecessário auditar os de baixo risco. Prontifiquei-me a visitar a empresa solicitante para explicar pessoalmente a proposta, porque claramente a profissional da qualidade que me ligou era ainda crua no assunto. Ela disse que iria passar a proposta para o seu chefe. Voltei a tocar no assunto várias vezes, sem obter resposta. Depois, soube que haviam selecionado a proposta “mais baratinha”, que previa um dia de auditoria em cada fornecedor.
Passaram-se dois anos e a empresa em questão nos chamou após ter sido alvo de denúncia de presença de corpos estranhos no PROCON. Trabalhando depois nessa empresa, vimos que o problema ia bem além dos corpos estranhos, pois o consumidor geralmente percebe apenas aquilo que pode ser visualizado. Ao nos aprofundarmos no caso, vimos que o processo de produção estava bem controlado, mas ao avaliarmos o procedimento de seleção de fornecedores, vimos que este contemplava um check list de cerca de 300 requisitos, que reconheci ser “à  moda da norma IFS (plágio?)”, com uma sistemática de pontuação que não resistia a uma simples simulação de consistência. Pior: cada auditoria havia sido feita em seis horas, sete no máximo. Dividindo os 420 minutos que há em sete horas por 300 requisitos, temos 1,4 minutos por requisito, supondo que o auditor não tenha almoçado, não tenha ido ao toilette e nem feito as reuniões iniciais e finais de praxe. Não precisa ser nenhum grande especialista para perceber que isto só poderia dar no que deu.
Não seria esse um caso de fraude? Analise você mesmo e tire suas conclusões: a empresa contratada para fazer as auditorias se propôs a realizar o trabalho de tal maneira que o seu serviço não entregava o que deveria entregar.
Claro que também poderiamos atribuir a culpa à “profissional-passadora-de proposta-para-o-chefe-analisar”, que não foi capaz de diferenciar uma proposta séria de uma não séria. Mas isto são “outros quinhentos”.
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FRAUDE é assunto para a INTERPOL – você sabia?


Eu nunca havia imaginado que a Interpol cuidasse de fraude também. Os leitores que, como eu, não sabiam disso, provavelmente ficarão surpresos a respeito das proporções que este problema tem atingido.


Simone Di Meo, Diretor de Inteligência Criminal da INTERPOL, França e da Europol, na Holanda reportou que, em 2012, a Comissão de Taxação e Alfândega da União Europeia apreendeu mais de 1,1 milhões de artigos entre alimentos e bebidas nas fronteiras da UE, incluindo desde produtos de luxo, como vinhos e produtos sazonais para datas festivas, como produtos de uso diário, como chá, confeitos e condimentos. Estas fraudes podem envolver desde falsificação de marcas e ou origem, até o uso de outros ingredientes perigosos ou não à saúde.

Di Meo apresentou os objetivos da INTERPOL da Europol, relatando, a seguir, as ações conjuntas que a INTERPOL vem fazendo com a Europol sobre fraude de alimentos e de bebidas.

A INTERPOL é uma organização mundial de polícia internacional, com 190 países membros, sendo o Brasil membro desde 1953. Seu objetivo é permitir que as polícias de todo o mundo trabalhem juntas para fazer do mundo um lugar mais seguro, contando com uma infraestrutura de alta tecnologia de apoio técnico e operacional.

A Europol é uma agência da União Europeia responsável pelo enforcement (adoro este conceito) da lei, ou seja, fazer cumprir a lei, cujo principal objetivo é uma Europa mais segura para o benefício de todos os cidadãos da União Europeia, lutando contra o crime internacional e o terrorismo. A Europol considera que as maiores ameaças de segurança vêm de terrorismo, tráfico de drogas, internacional e lavagem de dinheiro, fraude organizada, a falsificação da moeda euro e tráfico de pessoas. Grifei fraude organizada para destacar a ligação da agência com o assunto.

À esquerda, Simone Di Meo, Interpol, França.
Fonte: site da Conferência

As ações conjuntas com foco em ameaças à saúde, segurança e produtos potencialmente perigosos passaram a ser um dos grandes objetivos destas organizações a partir do projeto criado em 2008, envolvendo todas as commodities, exceto tabaco.

Esta colaboração resultou em duas grandes operações anti-fraude, em 2011 e 2012, denominadas respectivamente OPSON e OPSON II, realizadas em vários países. Estas operações foram respaldadas por apoio analítico de alto nível, e resultaram na detecção de uma enorme quantidade de produtos fraudados.


A seguir veja alguns recortes de clippings sobre fraudes mostrados por Di Meo e se surpreendam com as quantidades envolvidas.



Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

Veja a número de pessoas presas:

Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

E veja mais dados sobre as operações:

Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

Autor: Simone Di Meo, Interpol, França

Como resultado destas operações, os produtos mais sujeitos à fraude/ países foram: peixe – França; Azeite de oliva – Itália; leite – Islândia; mel – Turquia; sucos de frutas – Tailândia; chá, café e especiarias – Turquia e Itália; vinhos e aguardentes – Itália, França, Turquia e Reino Unido; molho de soja – Tailândia; carne – Colômbia; cubos para preparo de sopas – Dinamarca; molho de tomate – Itália e Egito; Queijo – Itália; caviar e trufas – Espanha e França; e alimentos orgânicos – Itália.
Algumas destas fraudes impactaram fortemente a segurança de alimentos, pela utilização de ingredientes nocivos à saúde, como óleo mineral em azeite de oliva, metanol em bebidas alcoólicas e comida contaminada que iria ser distribuída a pessoas necessitadas, dentre outras.
Não fique você agora desconfiando de tudo quanto é fornecedor destes produtos/ países, porque felizmente a maioria dos fornecedores é confiável. Mas como profissional da qualidade e da segurança de alimentos isto deve servir de alerta de que o sistema de seleção, monitoramento e verificação dos fornecedores deve ser reforçado.








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